segunda-feira, 8 de junho de 2009

Team Hoyt

Encontrei esta reportagem por acaso e não pude deixar de partilhar convosco esta extraordinária lição de vida:






Uma história de amor

No meio de tantos atletas, um homem tem uma missão maior. O seu filho quer participar, e ele vai atender o desejo do filho. A essa altura, você deve estar cheio de perguntas, tentando entender e até acreditar nesta história. Esta é a história de um pai que nunca desistiu de lutar pela felicidade do filho.

Rick é o mais velho dos três filhos de Dick Hoyt. Durante o parto, o cordão umbilical enrolou-se no pescoço. Faltou oxigenação no cérebro, provocando danos irreversíveis. Rick não pode falar ou controlar os movimentos de seus braços e pernas. Parecia condenado.

“Os médicos disseram: ‘Livre-se dele. É melhor interná-lo. Ele vai ser um vegetal o resto da vida’. Nós choramos, mas decidimos tratá-lo como uma criança normal. Ele é o centro das atenções e está sempre incluído em tudo”, conta Dick Hoyt.

Rick sempre teve amor, mas ninguém sabia até que ponto ele conseguia absorver e entender o que se passava a sua volta. A escola achava que ele não tinha capacidade de aprender. Os médicos também.

“Mas aí nós pedimos para os médicos contarem uma piada, e Rick caiu na gargalhada. Eles, então, disseram que talvez haja algo aí dentro”, lembra Dick Hoyt.

Cientistas desenvolveram um sistema de comunicação para Rick. Com o movimento lateral da cabeça, o único que consegue controlar, ele poderia escolher letras que passavam pela tela e, assim, lentamente, escrever palavras.

“Ele tinha 12 anos, e todo mundo opostava quais seriam as primeiras palavras da vida dele. Seriam ‘Olá, pai!' ou 'Olá, mãe!’?. Nada disso! Ele disse: ‘Go, Bruins’, uma frase de incentivo ao Boston Bruins, uma equipa de hóquei, conta Dick Hoyt

Rick participava de tudo. E foi assim que surgiu a ideia de correr.

“Um colega da escola sofreu acidente e ficou paralítico. Foi organizada uma corrida para arrecadar dinheiro para o tratamento. E Rick, através do computador, pediu: ‘Eu tenho que fazer algo por ele. Tenho que lhe mostrar que a vida continua, mesmo que ele esteja paralisado. Eu quero participar da corrida’. lembra Dick Hoyt. "Eu tinha 40 anos e não era um atleta. Corria três vezes por semana, uns dois quilómetros, só para tentar manter o peso. Nós partimos no meio do pessoal, e todos acharam que nós só íamos até à primeira curva e que depois iríamos voltar para trás. Mas nós fizemos a prova inteirinha, chegando quase em último, mas não em último. Ao cruzarmos a linha de chegada, Rick tinha o maior sorriso que você já viu. E quando chegamos em casa, ele disse-me, através do computador: ‘Pai, durante a corrida, eu sinto como se minha deficiência desaparecesse’. Ele chamou-se de 'pássaro livre', porque então estava livre para correr e competir com todo mundo”.

Que pai não faria todo o esforço para levar tamanha felicidade a um filho? Dick começou a treinar, e eles resolveram participar em outras provas. Mas a recepção não foi boa.

“Ninguém falava connosco, ninguém nos queria na corrida. Famílias de outros deficientes me escreviam e estavam com raiva de mim. Perguntavam: 'O que é que você está a fazer? Procura glória para si?'. O que eles não sabiam é que era o Rick que me empurrava para todas as corridas”, conta Dick Hoyt.

E contra todos, eles foram em frente. Um ano depois, participaram da primeira maratona. Cinco anos mais tarde, veio a ideia do triatlo. Mas, para fazer triatlo com seu filho, Dick Hoyt tinha uma série de problemas para resolver.

Primeiro: equipamento. Não existia nada parecido no mercado. Todo o material de competição teve que ser desenvolvido. E a cada competição, Dick Hoyt tinha que chegar mais cedo para montar tudo.

Mas Dick Hoyt tinha um problema muito maior a resolver para poder fazer triatlo com o filho. Uma coisinha básica: ele não sabia nadar. Mudou-se para uma casa à beira de um lago e foi aprender.

“Nunca vou esquecer o primeiro dia. Mergulhei no lago e adivinha: afundei! Mas todos os dias eu chegava do trabalho e tentava ir um pouquinho mais longe”, conta Dick Hoyt.

Entre o primeiro dia no lago e o primeiro triatlo, foram apenas nove meses. A questão da natação estava resolvida, mas Dick Hoyt ainda tinha mais uma dificuldade pela frente: já fazia um certo tempo em que ele não andava de bicicleta – desde os 6 anos de idade.

O ciclismo é a parte mais difícil para os Hoyt. A bicicleta deles é quase seis vezes mais pesada que a dos outros, sem contar o peso de Rick. E nas subidas, isso fica claro.

“Ninguém me ensinou a nadar, a pedalar ou a correr como um atleta. Nós simplesmente fizemos. Do nosso jeito”, comenta Dick Hoyt.

Do jeito deles, pai e filho enfrentaram os mais incríveis desafios. O mais impressionante: o Iron Man, no Havaí, o mais duro dos triatlos. São 3,8 mil metros de natação, 180 quilómetros de ciclismo e uma maratona inteira no fim: 42,195 quilómetros de corrida em mais de 13 horas de um esforço sobre-humano.

Dick e Rick venceram a desconfiança. Hoje são queridos onde chegam. Recebem incentivos dos outros competidores a todo instante e até agradecimentos.

“Vocês são incríveis. Obrigada”, diz uma triatleta.

Um rapaz diz que resolveu fazer triatlo por causa deles: "Hoje foi minha primeira corrida e eu gostaria de agradecê-los por serem minha inspiração”.

“É emocionante, porque começas a reflectir o que tens feito da tua vida”, comenta uma mulher.

“É a parte mais fenomenal do triatlo. É incrível o que este homem faz com seu filho”, elogia outra mulher.

“Ele é um grande homem. Ele tem coração, é um bom homem”, ressalta um atleta.

Desde 1980, foram seis edições de Iron Man, 66 maratonas e competições de diversos tipos. Pai e filho completaram 975 provas juntos. Jamais abandonaram uma sequer e nunca chegaram em último lugar. Eles têm orgulho de dizer: “Chegamos perto do último, mas nunca em último”. Sempre com o mesmo final apoteótico: público comovido, braços abertos e aquele mesmo sorriso enorme na linha de chegada.

Atualmente, Rick tem 46 anos. Com o movimento da cabeça, escreve no computador frases que serão faladas por um sintetizador de voz. É um homem bem-humorado. “As pessoas, às vezes, ficam a olhar para mim. Eu espero que seja porque eu estou muito bonito”, brinca.

Rick formou-se em educação especial na Universidade de Boston. “Não dá para descrever a felicidade no dia da formatura. Foi minha maior realização. Eu mostrei para as pessoas que elas não têm de ficar sentadas e esperar a vida passar”, comenta.

Hoje ele não mora mais com o pai. Mora sozinho, com a ajuda de pessoas contratadas para dar assistência. E se você fica dois minutos com Rick, jamais vai esquecer o seu sorriso.

“Ele é muito, muito, muito feliz. Provavelmente, mais feliz do que 95% da população”, afirma o pai, Dick Hoyt, que escreveu um livro e criou uma fundação para ajudar outras pessoas com paralisia cerebral. Hoje o superpai tem 68 anos e impressiona pelo vigor que continua a apresentar.

Aos 52, empurrando Rick, conseguiu o incrível tempo de 2h40m na Maratona de Boston, pouco mais de meia hora acima do recorde mundial. Marca excelente para um amador, sensacional para uma pessoa desta idade e inacreditável para quem corre empurrando uma cadeira de rodas.

“Já me disseram para competir sozinho, mas eu não faço nada sozinho. Nós começamos como uma equipa e é assim que vai continuar. O que importa para mim é estar aqui e competir ao lado do Rick”, afirma Dick Hoyt.

Por isso, eles se chamam “Team Hoyt” – a equipa Hoyt, Pai e filho, inseparáveis. Richard Eugene Hoyt e Richard Eugene Hoyt Junior: uma mensagem viva para o mundo.

“Nossa mensagem é: 'Sim, você pode'. Não há, no nosso vocabulário, a palavra ‘impossível’. Esse é o nosso lema. E nós continuaremos com ele até o fim”, garante Dick Hoyt.



Fonte:
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1684151-4005-848458-0-29062008,00.html

Site Oficial:
http://www.teamhoyt.com/

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